Após tantas décadas de expansão urbana a partir de um único centro, é chegado o momento de perceber a cidade a partir de suas várias centralidades. Ou seja: enxergar as “muitas cidades” que compõem uma cidade.
Esta é uma forma de criar um adensamento inteligente, em que cada uma dessas centralidades se desenvolve como um bairro, com serviços básicos disponíveis a pé, e com uma comunidade vibrante e conectada.
Assim, podemos trazer para as cidades brasileiras a inspiração européia da vitalidade das ruas e da qualidade de vida.
A maior parte dos espaços públicos, privados e comuns são dedicados às atividades mais práticas do dia a dia – deslocamentos, trabalho, compras básicas e pendências gerais.
Mas precisamos abrir espaço também para atividades de lazer, encontros, passeios, conexão com a natureza, que nos revigorem para dar conta da vida. Isso implica em redesenhar usos, substituindo estacionamentos por parques, ocupando e ampliando as áreas verdes, com espaços para se sentar, encontrar ou conhecer pessoas, e devolvendo às crianças seu lugar de brincar fora de casa.
Temos sempre a prerrogativa de buscar a harmonia com elementos da paisagem natural, em especial com a água. Buscamos dar valor a este elemento tão vital para nossa saúde e para a qualidade ambiental das nossas cidades.
Cuidamos não apenas da água que circula pelos canos mas também no seu aspecto lúdico, como elemento para trazer bem-estar, seja em ambientes privados ou áreas abertas de domínio público.
Entendemos que a harmonia com a água é fundamental para nossa qualidade de vida, por isso ela ocupa um papel fundamental em nossos projetos.
Ao longo do século 20, os carros ganharam muito espaço nos edifícios, empreendimentos e espaços públicos.
Entendemos que há um equilíbrio a ser buscado no uso dos espaços, para que a vitalidade, harmonia e bem-estar humano estejam em primeiro lugar na experiência urbana. Isso inclui transformar edifícios existentes, recuperando espaços para o convívio e lazer, substituir estacionamentos por parques, áreas de estar, conviver e brincar.
A busca é sempre por fazer do ordinário algo extraordinário, deixando um legado para a sociedade em cada uma dessas intervenções.
Tem ganhado muito espaço no urbanismo contemporâneo a discussão sobre o “placemaking”, que é a arte de transformar espaços (impessoais, por onde as pessoas simplesmente passam) em lugares (com personalidade, que oferecem experiências únicas tanto para quem passa quanto para quem fica).
É uma forma de criar pequenas gentilezas urbanas, que podem tanto estar em espaços públicos, quanto nas áreas de transição para os espaços privados, como as fachadas dos edifícios, por exemplo. É uma forma de tornar a experiência cotidiana mais agradável, com interações positivas entre as pessoas.
Cada espaço vazio, desocupado, ocioso, pode ser ocupado com usos inovadores. A cobertura de um edifício, por exemplo, pode se tornar um rooftop com plantas, móveis e luzes aconchegantes, um lugar aberto para desfrutar com outras pessoas ou apenas para ficar sem fazer nada.
Construções antigas ou novas podem ter usos mais versáteis, a partir das diferentes demandas existentes e das que possam vir a existir. Assim, em vez de as pessoas terem que se adaptar aos lugares, eles estarão a seu serviço.